Abrigar a mais importante coleção particular de livros e manuscritos que recontam a história do País não é para qualquer espaço. Um gigante de 21 mil metros quadrados, em um terreno de 25 mil, em plena Universidade de São Paulo, tornou-se o local perfeito.
Desenhado especificamente para resguardar o acervo de mais de 17 mil títulos e 40 mil volumes generosamente doados à nação pelo advogado e bibliófilo José Mindlin e sua esposa, o projeto conta com aplicações de conceitos bioclimáticos que contribuem com a eficiência energética, assegurando a proteção e manutenção adequadas das obras raras. “Queríamos construir uma obra pública que fosse referência de qualidade e tínhamos a preocupação da perenidade. Há livros de mais de 500 anos que devem permanecer lá por outros 500, então o prédio também precisava ser durável”, conta Rodrigo Mindlin Loeb, arquiteto que A transparência está presente para criar uma relação interior e exterior, mas sempre com os filtros de luminosidade. Há uma sequência de proteções para barrar a entrada de luzRodrigo Mindlin Loebassina o projeto ao lado de Eduardo de Almeida.
O sobrenome Mindlin não é mera coincidência. Rodrigo é neto de José e Guita, os donos da coleção que compõe o acervo e que dão nome à Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. Foi o próprio avô quem pediu que o arquiteto fizesse parte da criação do projeto. “Durante toda a concepção foi levado em consideração o gosto de meu avô, apesar de ele não interferir nesta parte. Mas eu sabia do que ele gostaria. A concepção dos mezaninos é um exemplo. Além de uma das estantes de dentro do acervo que é vermelha como era na biblioteca da casa dele”, lembra Rodrigo.
O espaço onde os livros estão dispostos permite que o acervo seja avistado de qualquer lugar do edifício, pois ele está localizado em uma espécie de anel central de quatro lados. “Optamos por não colocar nenhuma estante na frente da outra para não interferir na leitura”, diz. Mas esta não foi apenas uma solução operacional, foi também ambiental. “O anel tem a profundidade mínima e permite ter um volume mínimo de ar que necessita de tratamento ambiental, ou seja, ar-condicionado e controle de umidade”, explica.
Como há relíquias e obras muito antigas na coleção, uma das principais preocupações neste projeto é a de guarda e manutenção adequadas das peças. Por isso, o isolamento e proteção térmica foram essenciais. Os quatro mil metros quadrados de áreas de acervo contam, além do sistema de ar-condicionado e controle de umidade, com sistema de sprinkler pré action, detecção, e monitoramento por câmeras e sensores.
As paredes de concreto maciço e aparente dão estabilidade térmica e os vidros têm filtro ultravioleta e um forro que permite passar apenas 10% de entrada de luz. “A transparência está presente para criar uma relação interior e exterior, mas sempre com os filtros de luminosidade. Há uma sequência de proteções para barrar a entrada de luz”, afirma. A primeira camada de proteção é o vidro que faz mediação exterior e interior com filtro, depois tem os elementos de sombreamento como as brises e as chapas de alumínio perfuradas. Em seguida, há um espaço vazio de 80 centímetros, e uma nova camada de vidro e caixilhos. Só então, há áreas de trabalho, também criando proteção de luminosidade para o acervo no centro.
Uma única edificação, construída entre setembro de 2006 e março deste ano, abriga a biblioteca brasiliana, o Instituto de Estudos Brasileiros, o Sibi (Sistema Integrado de Bibliotecas da Queríamos construir uma obra pública que fosse referência de qualidadeRodrigo Mindlin LoebUniversidade de São Paulo) e uma Biblioteca Central de Obras Raras e Especiais da USP. Apenas o térreo é aberto ao público. Uma esplanada livre – uma espécie de praça coberta – conectada com rampas cobertas, mas abertas nas laterais articula-se com a cafeteria e o auditório para 300 pessoas, e também se conectam a um espaço fechado e coberto com a mesma iluminação que leva aos blocos onde estão os acervos.
De um lado, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, e de outro, o IEB, Sibi e Biblioteca de Obras Raras da USP.
Na ala sul, há salas de consulta nas duas extremidades, e, na norte, há uma sala de exposição permanente. No subsolo, fechado ao público, há pátios ingleses de iluminação natural com áreas de trabalho e pesquisa. Já no primeiro pavimento, ficam áreas fechadas de acervo e trabalho de pesquisa, e no segundo, as áreas de administração e acadêmica.
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