A contradição entre volume, peso e leveza é uma das primeiras impressões que se tem ao olhar para O jardim é a face pública do edifício. Ele se comunica com a cidade Rodrigo Cerviño Lopez o edifício Vila Aspicuelta, um conjunto de oito habitações localizado na Vila Madalena, em São Paulo, que inverte a lógica encontrada em edificações verticais. Aqui, oito casas geminadas estão dispostas horizontalmente e, suas funções, verticalmente.
“Há uma saída estrutural de que eu gosto bastante, uma vez que os pilares – pontos de contato do edifício com o solo –, são estrategicamente pensados. Eles são vistos no fundo da construção, quatro apoios soltos no meio do terreno, entre as escadas dos diferentes apartamentos, e engastados dentro do muro. Por isso criam a sensação de leveza”, descreve Rodrigo Cerviño Lopez, arquiteto e um dos sócios do escritório Tacoa. Fernando Falcon, autor e sócio no escritório complementa: “Quando se está embaixo da laje extensa e larga, é difícil entender como ela descarrega esse esforço todo. E esse é um dos aspectos de que mais gosto no projeto”.
De forma inédita, houve a intenção, desde o início de liberar o máximo espaço térreo, criando um edifício todo elevado. “Por conta da legislação, precisava existir uma faixa de três metros sem cobertura nenhuma no terreno. Então, criamos um recuo no fundo do edifício”, explica Rodrigo Cerviño. O caráter social do edifício reproduz um tipo de habitação existente desde o início do modernismo. “Trata-se de um tema pouco recorrente, reproduzido nesse conjunto de casas geminadas, que também é um edifício. Um raciocínio inverso do que é feito na maioria das construções atuais erguidas na cidade de São Paulo”, expõe Rodrigo.
A estrutura de concreto aparente apresenta vãos de dez metros, vigas de 1,5 m de altura que Quando se está embaixo da laje extensa e larga, é difícil entender como ela descarrega esse esforço todo. E esse é um dos aspectos de que mais gosto no projeto Fernando Falcon descarregam os esforços nas fundações. O conjunto de pilares e escadas funciona quase como se fossem arcos, mas construídos de maneira reta. “O concreto acaba sendo sempre uma possibilidade, um caminho natural porque permite uma construção muito mais fluida. No caso da Vila Aspicuelta, a soma entre a estrutura de concreto e o vidro presente no conjunto de escadas do térreo cria uma aparência tridimensional”, analisa Fernando.
Isso tudo em um edifício considerado de pequena escala. Entre os materiais estruturais utilizados figuram basicamente concreto e vidro. A transparência do vidro favorece a iluminação cruzada e permite que você atravesse os pavimentos, independentemente do andar em que esteja. “Cada casa praticamente não tem parede. As únicas existentes são as que fecham o núcleo do banheiro”, expõe Fernando. Já no térreo, os arquitetos queriam o mínimo de opacidade possível, por isso os elementos resumem-se a pilar, escada e viga.
Voltada para a rua, a fachada do prédio exibe uma solução diferente e generosa: um jardim vertical. O painel verde integra-se à cidade e chama a atenção de quem está andando pela rua. Democrático, o edifício tem portões transparentes, que permitem ver o térreo com características de um grande pátio, como se fosse a continuação da via. “O jardim é a face pública do edifício. Ele se comunica com a cidade”, resume Rodrigo. Para manter as plantas irrigadas, foi previsto um ponto de água que funciona como uma espécie de filtro molhado com bolsas para acomodar as espécies e alimentá-las.
Na cobertura, cada morador tem seu próprio jardim. Privativo, ele tem um gradil que divide as diferentes coberturas. A generosa faixa de terra pode receber vegetação e também oferece um deque disposto sobre a área técnica, onde ficam equipamentos como a caixa d'água e o aquecedor.
Devido à limitação do terreno, as oito unidades foram organizadas em quatro níveis. No térreo, está a A soma entre a estrutura de concreto e o vidro presente no conjunto de escadas do térreo cria uma aparência tridimensional Fernando Falcon garagem e área comum; no primeiro pavimento, um único ambiente agrega as diferentes funções sociais: estar, jantar e cozinha; no segundo dispõem-se os espaços privativos: quarto com jardim contíguo e banheiro; e no quarto andar há a cobertura laje-jardim. “Nela, é possível ter um jardim de verdade. Os 80 centímetros de terra possibilitam plantar até árvores e arbustos”, explica Fernando. Essa organização garantiu que os ambientes desfrutassem da mesma orientação leste, ensolarada pela manhã e sombreada à tarde, além da ventilação cruzada.
Em cada apartamento, a otimização de itens de sustentabilidade e conforto térmico foi garantida pela ventilação cruzada em todos os ambientes, dispensando, na maioria das vezes, o uso do ar-condicionado. O novo conceito usado no edifício acabou sendo uma vitória, consideram os arquitetos. “O Vila Aspicuelta foi feito comercialmente, mas consegue desenvolver uma relação franca e saudável com a cidade. Uma prova de que é possível fazer edifícios interessantes – fugindo das construções neoclássicas –, e ter lucro”.
Outra questão trabalhada foi a permeabilidade do solo. Como a edificação está localizada em uma região baixa – o bairro da Vila Madalena, com sérios problemas de alagamento –, os profissionais evitaram a construção de um subsolo e investiram em um piso permeável. “Impermeabilizamos o mínimo possível. Apesar de a construção cobrir 70% do terreno, o piso inteiro da vila é permeável, mesmo sendo garagem. Assim, toda água que cai no terreno é absorvida pelo próprio solo e drenada. Também fizemos uma grande cisterna de captação que retarda o retorno dessa água para o sistema pluvial da cidade”, conta Fernando.
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