O espectador que observa externamente a Arena Castelão nota que o estádio está renovado: os 60 Desde o início, tínhamos a ideia de reaproveitar a estrutura existente. Com isso conseguimos primeiramente diminuir os custos do projeto; em segundo lugar, preservar a imagem do estádio consolidada no imaginário coletivo; e em terceiro, manter e respeitar o patrimônio público, construído com muito esforço, em várias etapas Héctor Vigliecca pórticos metálicos reticulares e a fachada coberta por uma pele translúcida lhe conferem contemporaneidade. Mas aqueles que têm o velho Castelão na memória não ficam desapontados. Ao entrar em seu interior é possível encontrar os ‘gigantes de concreto’, como são conhecidos seus pilares originais. O perfeito convívio entre as novas estruturas e as pré-existentes é um dos grandes méritos desse projeto de autoria do escritório de arquitetura Vigliecca & Associados.
Conectados aos pilares de concreto – erguidos no projeto original da década de 1970 –, os pórticos também resolvem uma questão que acompanhou o estádio ao longo de seus 40 anos de vida – a vibração nas arquibancadas – e ainda funcionam como suporte para a cobertura.
Ao unir a estrutura de concreto à de metal, obtém-se um alinhamento próximo aos 100% de precisão, no qual o desempenho não é comprometido. “Desde o início, tínhamos a ideia de reaproveitar a estrutura existente. Com isso conseguimos primeiramente diminuir os custos do projeto; em segundo lugar, preservar a imagem do estádio consolidada no imaginário coletivo; e em terceiro, manter e respeitar o patrimônio público, construído com muito esforço, em várias etapas”, declara o arquiteto Héctor Vigliecca, sócio-fundador do Vigliecca & Associados, com escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.
Mesmo iniciada com quase um ano de atraso devido a questões burocráticas, a modernização do Castelão foi concluída em apenas 20 meses graças à execução de etapas construtivas independentes – uma obra não precisava ficar parada aguardando a conclusão de outra para ser iniciada. Além disso, tinha à disposição no local um departamento representando vários órgãos de governo, o que reduziu a semanas decisões que poderiam levar meses. “Dominamos a obra em todos os seus aspectos. Ter os arquitetos acompanhando tudo do início ao fim, avaliando dificuldades e adaptando soluções, agilizou a tomada de decisões com os engenheiros e a construtora”, afirma Vigliecca.
O primeiro estádio a ser entregue – em 15 de dezembro de 2012 – é, também, o mais econômico entre os 12 escolhidos para sediar os jogos da Copa do Mundo 2014, apresentando redução nos custos previstos de R$ 104 milhões. De acordo com Vigliecca, o fato da concepção do estádio ter sido feita integralmente pelo escritório contribuiu para o resultado positivo tanto em termos de tempo quanto de custo em uma arena cuja obra é 100% brasileira.
O principal objetivo do projeto de reforma do Castelão – além de inseri-lo nos padrões exigidos pela FIFA –, era transformá-lo em uma arena multiúso, moderna e autossustentável. Para seguir o conceito de arena – historicamente estádios no qual o público fica próximo ao espetáculo –, o campo de futebol foi rebaixado, enquanto a arquibancada inferior avançou 30 metros. O resultado é uma distância entre público e jogadores de apenas 10 m.
Com assentos retráteis e antivandalismo, a construção ostenta os mesmos modelos utilizados no Estádio Olímpico de Londres, em 2012, e no Soccer City, que sediou a final da Copa do Mundo da África do Sul 2010, em Joanesburgo. “Eles são considerados os melhores do mundo. Já o processo inédito de construção das arquibancadas inferiores apresenta sistema de pré-moldagem in loco sobre um tipo de fundação que chamamos de radier”, explica o arquiteto Ronald Werner, do Vigliecca & Associados, um dos coordenadores gerais do projeto.
Ao manter 70% das arquibancadas superiores, os arquitetos seguiram o caminho mais difícil, pois, normalmente, conservar uma estrutura é um complicador em uma reforma desse porte. Vigliecca expõe que isso só foi possível porque o estádio original foi feito em setores, e o primeiro anel estava totalmente separado estruturalmente do posterior.
Apenas uma ‘fatia’ equivalente a um quinto da edificação foi implodida. A operação recebeu o prêmio de precisão em engenharia World Demolition Awards, tido como o Oscar da tecnologia de implosões no mundo. “Demolimos o setor mais antigo, recortamos um pedaço do estádio e encaixamos outro. Neste único módulo foram concentrados os setores que exigem mais tecnologia, com funções de alta complexidade, como camarotes, sala de imprensa, sala VIP, vestiários, sala de controle, zona mista, lounges e restaurantes. Compactados em um só lugar, eles otimizaram tempo e custo de obra”, declara Werner.
O fato de a estrutura da cobertura ser montada em peças independentes acelerou seu processo de instalação. Leve, porém rígida, ela dispensou gruas durante a montagem, revelando um sistema mais prático e econômico. Segue a tendência dos estádios no mundo, pois contempla todos os espectadores. O material de sua composição é o policarbonato, ora translúcido, ora opaco. Vigliecca explica que, tecnicamente, essa divisão ameniza a linha de sombra, ajudando no conforto visual do público e nas transmissões dos jogos pela TV.
Uma esplanada de 73.850 m² funciona como hall de acesso do público ao estádio e como área Demolimos o setor mais antigo, recortamos um pedaço do estádio e encaixamos outro. Neste único módulo foram concentrados os setores que exigem mais tecnologia. Compactados em um só lugar, eles otimizaram tempo e custo de obra Ronald Werner para instalações provisórias. Ela faz a ligação entre a área interna e a cidade e está situada entre os dois níveis do estádio – que correspondem às arquibancadas inferiores e superiores. Dela, saem espaçosas rampas em direção ao Castelão. “Criamos acessos simplificados, rápidos para entrar e sair e de fácil leitura para as pessoas”, conta Vigliecca.
Sustentável, a Arena é a primeira da América do Sul a conquistar a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). Dentre os fatores que contribuíram para a obtenção do certificado estão o racionamento de material e utilização de insumos locais, resultando em economia de toneladas de aço e concreto. A redução do consumo de água potável pelo complexo foi de 67,61%, conquistados apenas com a utilização de metais e de tecnologias economizadoras. O Castelão empregou sistema de vasos sanitários a vácuo, como o adotado em aviões, e de condicionamento de ar que não utiliza gases refrigerantes à base de CFC (clorofluorcarbono), responsável pela destruição da camada de ozônio.
Além disso, toda a madeira utilizada é certificada, e os materiais – como cola e solventes – são livres de elementos que contaminam o ar. Houve um cuidado desde o processo construtivo até a reutilização de tudo o que deveria ser descartado, gerando economia de toneladas de aço e concreto. Cadeiras e gramado do antigo estádio foram doados e, aproximadamente, 97% do material demolido, foi reaproveitado.
“Não adianta um estádio ter o selo verde, se, para construí-lo, utilizou-se o dobro de aço exigido em uma estrutura mais racional”, afirma Werner. “Antes de tudo, a construção deve cumprir bem as funções vitais de um equipamento multiúso e moderno, atendendo proporcionalmente aos anseios da cidade”, conclui.
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